23.5.07

Área urbana possui 84 rios: águas que ninguém conhece

por MARCELO FRAZÃO

Londrina nasceu no caminho dos córregos e ribeirões e, em volta deles, se organizou. Hoje, onde quer que se vá, lá estão: cravados nos vales verdes. Apenas na área urbana, que ocupa 20% do território do Município, correm 84 córregos. Nos outros 80% de áreas rurais estima-se a existência de 600 cursos de água de tamanhos diversos – muitos sequer têm nome. Dentro da Cidade, quem não mora perto de rios certamente passa por um deles para ir ao trabalho ou à escola.Londrina vive o mesmo dilema das grandes cidades brasileiras com suas águas urbanas: a qualidade dos rios é proporcional à cobertura do serviço de saneamento. No centro, onde há infra-estrutura sanitária, os cursos dos vales são visivelmente melhores que nas periferias, onde ribeirões - como o Quati (zona norte) – estão poluídos devido a ocupações irregulares e despejo de esgoto. Na região central, apesar de toda a degradação ambiental nos fundos de vale, os córregos resistem e mostram belezas que poucos conhecem simplesmente porque não há informações. Em Londrina, ainda é possível beber água, com segurança, na nascente de um grande ribeirão – o Lindóia, também na zona norte. Protegida por um portão com cadeado, a mina do ribeirão verte água fresca e pura, antes de começar a se degradar à medida que avança para o Tibagi. Também de água pura é a pequena cachoeira do Córrego do Tatu, com seus paredões de pedra, escondida atrás do Shopping Catuaí, na zona sul, razoavelmente preservada e pouco visitada. Com o também pouco freqüentado Tibagi, a lista dos desconhecidos rios, córregos e ribeirões da Cidade é extensa. Segue nesta e na próxima página fotos de alguns desses curos d’água. Córrego do Leme - Provavelmente as nascentes estão em frente à Sercomtel, canalizadas nas galerias, e na área debaixo do Moringão. Quando entra no Zerão, torna-se visível até desaguar no Igapó. Córrego Água Fresca – As nascentes do Água Fresca estão no vale atrás da Sanepar da Avenida JK. Canalizado, ele corta as Ruas Goiás e Humaitá e tem área de preservação garantida, com mata ciliar, no Vale Verde.Canalizado para construção de avenidaO que hoje é um crime na visão dos ambientalistas, no passado, foi uma solução para urbanização em Londrina. A Avenida 10 de Dezembro, a Via Expressa, está cravada em um fundo de vale onde, bem no meio, passa o maior córrego canalizado da Cidade: o desconhecido Córrego das Pombas. “As pessoas acham que é esgoto, mas não é não. É rio de água mesmo”, diz o operador de caixa Valter Luiz, 50 anos, que mora há mais de 30 anos perto de onde nasce o córrego, no Jardim Boa Vista (zona sul).Na década de 70, antes de a Via Expressa ser construída para “engolir” o córrego, suas nascentes eram abertas e todos bebiam sua água. Hoje, as águas que dão origem ao Córrego das Pombas ficam sob domínio da Copel, na Unidade de Transmissão Londrina - onde só é possível entrar com autorização. As seis nascentes foram canalizadas para formarem um lago artificial com peixes exóticos, dentro de uma praça. Depois corre em meio ao concreto das pistas da Dez de Dezembro por três quilômetros até o encontro com o Ribeirão Cambezinho, que sai do Igapó, pouco antes de entrar no Parque Arthur Thomas. Dividindo as pistas, o córrego de concreto exibe até mesmo árvores que insistem em nascer onde antes era a mata ciliar. Os córregos de Londrina estão até sob as ruas, em locais que surpreendem. Debaixo da tampa de uma boca-de-lobo, no cruzamento da João Cândido com a Avenida JK, esconde-se o curso do Córrego do Leme, que cruza todo o Zerão até a foz no Igapó. Canalizado sob a terra pelas galerias, a área de nascentes do Leme, suspeita-se, começa no alto da Rua João Cândido, em frente à Sercomtel. “Não há como não se surpreender”, diz o ambientalista João das Águas, que a descobriu ao abrir uma das bocas-de-lobo.

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